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A Grécia e a raiva de Aquiles

Onde é que eu já terei lido coisas parecidas com isto?

Retirado do eKathimerini (jornal grego escrito em inglês), destaques a bold meus:

Today, after 37 years of unprecedented prosperity, our two-party political system did not manage to build on this stability. Instead, it cultivated division. When the two major parties alternate in power with such ease, each taking on the other’s role in government or in opposition, they undermine ideologies and institutions. Politics remains a personal business, incapable of getting past the weaknesses of its protagonists. Whichever party is in power undertakes reforms that it does not believe in, while the main opposition party (which may have proposed these very changes while in office) fights them mercilessly.

The smaller, leftist parties are usually out of government (with the controversial exception of 1989-90, when multiparty coalitions ran Greece briefly) and have perfected the role of smugly criticizing whoever is in power. The result is a political culture in which compromise equals treason and dialogue is impossible. When each side owns the truth and defends the only right cause (its own), it undermines the concept of responsibility and conscientiousness at the personal and collective level. It keeps people wary of institutions, reinforcing the belief that citizens are unprotected unless they find someone to protect them or take things into their own hands.

Today, we are at war for our collective survival. What is at stake is not personal, whether we be party leaders or among the “indignant” thousands that gather at Syntagma Square every night. The main issues are how we will make our economy viable without losing democratic values, and how we will negotiate (politicians and citizens, either together or in conflict with each other) with our partners in Europe to find solutions that will give hope to all the societies which today stand on the brink of bankruptcy.

In these battles, it is useful to have the grasping egotism of Agamemnon and the mad pride of Achilles; but, in the end, it is better to heed the poet-warrior Archilochus’ advice — do whatever must be done to survive today, so that you can fight again tomorrow.

Em defesa de Rui Tavares

(não que ele precise da minha defesa…)

Adaptei este texto a partir de comentários em blogs de alheios irredutíveis gauleses (aqui e acolá), pois acho que fui particarmente feliz na expressão do que penso acerca da “transferência do ano” no Parlamento Europeu e das ondas de choque que gerou.

Aplaudo de pé a atitude de Rui Tavares. Votei na altura convictamente no Bloco, não só mas em boa medida pela sua presença nas listas – sou um leitor ávido e assíduo da coluna de opinião de RT na última página do Público, cujas opiniões subscrevo quase sempre. Não sonhava sequer que o BE elegesse 3 eurodeputados, e exultei com a eleição do terceiro deputado – RT, precisamente – ainda  por cima por tão poucos votos. Naquele dia, senti o meu voto mais útil que nunca.

Cada atitude deste neófito eurodeputado, principalmente a transparência e “prestação de contas” a quem o elegeu no Público, no seu blog), bem como o didactismo do relato do que verdadeiramente é a actividade do PE dignifica-o e, por extensão, ao próprio Parlamento.

A democracia como eu a entendo não se resume a votar em listas fechadas e no programa que as suporta. A democracia resulta na eleição de pessoas que, por nelas termos votado, são legitimadas para o exercício de um mandato. Poderão exercê-lo bem ou mal, e caberá aos eleitores, sobretudo os que lhe deram o seu voto, avaliar se esse mandato é exercido bem ou mal.

Há os que pensam que Rui Tavares apenas foi eleito para defender as posições do Bloco. É legítimo. Há os que defendem que Rui Tavares foi eleito pelas suas ideias – naturalmente enquadradas na lista que o integrou, também, supõe-se, por de alguma forma se rever nas suas ideias ou achar que elas serão utéis para a actividade política do partido em causa – eleito pelas suas ideias, repito, e para encontrar forma de as projectar na actividade para a qual foi eleito. Será também legítimo, penso, da mesma forma como natural me parece pessoas diferentes votarem numa mesma lista e nos mesmos candidatos com motivações diferentes, o que o “caso Rui Tavares” manifestamente demonstra.

O mandato de um eurodeputado é de 5 anos, não tem a duração que os líderes do partido em questão decidem que têm. Isso sim, é a subversão do princípio democrático, porque os líderes políticos não são eleitos, pelo menos não pela totalidade dos eleitores portugueses. Como tal, não devem por princípio alterar o que foram os legítimos resultados dessas eleições, que neste caso resultaram na eleição de Rui Tavares. Sentir-me-ia defraudado se ele abandonasse o seu cargo “apenas” por ter entrado em colisão com o partido que o albergou na sua lista. Não é um facto neglicenciável, obviamente, mas não é, não pode ser, na minha concepção de democracia, o facto determinante.

Repito, podemos concordar ou discordar das atutudes tomadas por RT e dos motivos por que a tomou, mas não podemos acusá-lo de desrespeitar a democracia que o elegeu – pelo contrário, RT enaltece-a .

Entristece-me constatar que “estalou o verniz” bloquista e que a recente débacle eleitoral trouxe à tona os piores instintos trotskistas/maoistas que eu julgava ultrapassados no processo de formação do BE. Entristece-me sobretudo porque julguei, a certa altura, ter encontrado o “meu” partido e, neste momento (já vem de antes das eleições de 5 de Junho), não me revejo nele minimamente.

A posição federalista de RT é exactamente a minha. Julgo que o grupo europarlamentar dos Verdes tem mais a ver com esse federalismo – não havendo, claro, grupos ou partidos perfeitos – e que RT terá aí, até, melhores condições para exercer a sua  actividade como eurodeputado – democraticamente legítima, não me canso de insistir, investido de um mandato individual como todos os seus 735 colegas.

Em jeito de post scriptum,aproveito para dizer que os partidos a nível europeu em que mais me revejo são partidos Verdes, sobretudo o alemão. Tenho muita pena que não exista um partido assim em Portugal. Já agora, um desafio: que tal formá-lo? Anyone?

Lição de democracia (mais uma), versão Espanha

O PSOE, como já era esperado, venceu as eleições legislativas em Espanha, com o resultado e margens de vitória mais ou menos antecipadas pela maioria das sondagens divulgadas. Nada de novo ou sequer inesperado aqui a acrescentar ao que anteriormente escrevi sobre a política à espanhola.
O que me chamou mais a atenção nestas eleições, para além de todos os considerandos sobre resultados, vencedores e vencidos, possíveis acordos de governação, etc., foi, tal como já numa anterior ocasião, o nível de participação dos eleitores. 75% dos espanhóis votou. Menos de 25% de abstenção! Comparem com o nível de participação das mais recentes eleições em Portugal, mesmo as mais importantes…
A política espanhola pode ter muitos defeitos, mas os espanhóis sabem o que politicamente querem, e fazem algo por isso – algo tão simples como deslocar-se a uma escola ou outro edifício público a um domingo, fazer uma cruz num quadrado de papel e metê-lo numa caixa fechada. Algo tão simples mas que os portugueses teimam em achar demasiado complicado, demasiado cansativo.
Cada vez que ocorre uma destas eleições a que em Portugal se dá por algum motivo particular atenção (por ser mesmo aqui ao lado, no caso presente) e surgem estes devastadores – na nossa lusa perspectiva – dados de participação eleitoral, recordo e dou cada vez mais razão a certos e saudosos armadilhadores (agora emigrados para outras e distintas paragens): talvez a democracia como sistema político, plena de vícios como já está, não seja o que era, mas o que está em crise, e em crise grave, é a democracia portuguesa.